Histórias que o Vovô contava

Amanhecer na fazenda - I

Amanhecer na fazenda – I


Numa casinha de taipa,
Bem próximo da fazenda,
Na hora que o galo canta,
O trabalhador se levanta.

Tira água do poço;
Um pouco ele põe no pote;
Mais um pouco no corote;
Derrama o resto na tina.

Lava bem o caldeirão
E a chaleira do café;
Depois acende o fogão;
Com pressa ele dá no pé.

Coitado do Jeremias;
Pra dar conta do trabalho;
Rotina do dia-a-dia;
Corre tanto e não se cansa.

Mais magro que bacalhau,
Só tem medo de balança;
Mas o pobre sai correndo;
Espantando urutau.

Que o dia ta amanhecendo,
Mas ele chega apressado;
Com certeza, às sete horas,
O leite já está tirado.

Solta os bezerros e vacas
E sai correndo pra rua,
Já com o leite na perua,
Para entregar na usina.

No armazém do Tavico,
Carrega o sal da boiada.
E depois, pé na estrada,
Que o sol ta de torrar.

Acordei de madrugada;
Agora, vou descansar.
Vou tirar água do poço,
Para depois me banhar.

Agora só quero almoço;
A faxina do aquário,
Eu vou deixar pra amanhã;
Escuto o noticiário.

Depois de lido o jornal,
Eu vou pegar a mangueira;
Dar um banho na perua,
Que hoje eu carreguei sal.

O patrão vira uma fera,
Se o carro enferrujar;
Pode até me despedir;
Mas se isto acontecer,

Eu também vou virar bicho;
Quem trabalha tem direito;
Eu pulo fora do eito;
Ele vai pro carrapicho.

Bem cedo tomei café,
Que tava meio amargoso;
Eu até falei pro Zé,
Pobre vive de teimoso.

Se morrer, contrato outro,
Que seja do meu agrado;
Eu já vi que o sindicato
Tem mesmo é papo furado.

O leiteiro – coitado!
Passa a noite no sereno;
E tudo que ele faz;
Ainda é café pequeno.

A mulher dele,
Que nele não bota fé,
Quando viu outro rapaz,
A coitada deu no pé...



Amanhecer na fazenda - II

Amanhecer na fazenda – II


Quando amanhece, escuto
O galo cantar
E o leiteiro já se foi;
O carreiro ajunta os bois,
Que a luta vai começar.

Boto na canga
Boi de coice, boi de guia;
Boi de traz e boi de frente;
Isto é boi inteligente,
Era o que o patrão dizia.


São sete horas, hora de viajar;
Vamos boiada; o carro ta na estrada;
Tô indo devagarinho;
Eu vou parar no moinho,
Com o milho do fubá.

Quirera, fubá e milho,
Eu pego quando voltar;
Que o milho já tá moído;
Eu boto mais na moega;
Para, à noite, triturar.

Quando voltar,
Os bois estarão cansados;
O carro, cheio e pesado,
Que assim, canta melhor.
Termina o dia, solto os bois lá no cerrado,
Que o milho tá no paiol.

Quando amanhece,
Na fazenda é só fumaça;
Na pastagem, o gado corre,
Fugindo de um tem que passa,
Transportando seu valor.

É a mogiana,
Com seu transporte arrojado
De café, arroz e gado;
Levando tudo pra Santos
Exportar pro exterior.


E as crianças que a mim
Se avizinham,
Correm pra beira da linha,
Alegres, soltando gritos;
Gostam de ouvir o apito
Da grande máquina a vapor.


Amanhecer na fazenda - III


Amanhecer na fazenda – III

Quando amanhece na fazenda,
O sol desponta;
As galinhas cacarejam,
Procurando onde botar.



E as crianças,
Felizes, vão pro colégio;
Param à beira do brejo,
Olhando o pato nadar.

Pra crianças, tudo é festa;
Muito boa ,com certeza;
Marrecos passam voando;
Galinhas cacarejando.

E a garotada;
Felizes; muito animada,
Seguem em frente na estrada,
Que o alarme já tocou.

Eu vou parar lá no
Campo da fazenda,
Pra beliscar a merenda
Que a mamãe fez para mim.

Duas fatias de pão;
Mel de abelhas, requeijão;
Leite de vaca, fervido,
Paçoca de amendoim.

Férias de julho; que bom!
Vou querer aproveitar;
Descer a Serra do Mar;
Ver as praias que tem lá.

Só um mês é muito pouco;
Eu preciso descansar;
Acabo ficando louco;
Nesta vida de estudar.

Depois volto pra fazenda,
Pra colheita do café;
Fim do ano é na Bahia;
Vou comer acrajé.