Histórias que o Vovô contava

Ovos muito bem fritinhos...



Ovos muito bem fritinhos...


. - .Rio de Janeiro, RJ, 19 de maio de 2005.

Sr. Walter,


O filho caçula aproxima-se da casa e já pode ouvir o “tec-tec-tec” da máquina de costura da ‘mamãe’. Então, ele conclui que ela realmente não pára de trabalhar, na tentativa de ajudar o pai, que fora bem cedo para a roça, levando consigo, sua moringa de água e os irmãos mais velhos.
O acontecimento se dá provavelmente durante o ano de 1936, nas Minas Gerais.
“Bastiãozinho”, como é chamado carinhosamente por todos da casa, até mesmo porque é o caçula de uma prole de nove herdeiros, está vindo de sua escola, muito distante dali e, portanto, está visivelmente cansado, pois a tirada até a escola e vice-versa é feita a pé.
Entra na casa e dá uma olhada sorrateiramente no quarto, para certificar-se de que é realmente a mamãe quem está na “singer americana”.
Afasta-se, percebendo que sua mãe ainda não se deu conta de que ele chegou.
Todavia, como todo bom caçula, ele quer ser notado e, por isso, faz um pequeno barulho.
A mãe pergunta imediatamente:
- Bastiãozinho ! É você, meu filho ?
O pequerrucho irrompe no quarto, respondendo:
- Sim, mamãe; acabei de chegar.
A mãe continua:
- Vá tomar um banho para poder almoçar.
O pequeno toma seu banho e, depois de bisbilhotar as panelas sobre o velho fogão a lenha, volta ao quarto e senta-se numa cadeira, fingindo distração.
A mãe diz:
- Vai almoçar, meu filho. Você quer que mamãe tire a comida para você ?
O filho:
- Não quero ! Estou sem fome.
A mãe:
- O “papá” está uma delícia.
- O que é que tem para comer? - pergunta o garoto.
A mãe, esperançosa, acode:
- Olha ! Na panela preta, de ferro, tem jilozinho; uma verdadeira maravilha; na panela sem cabo, um quiabo que está “de lamber o beiço”; na caçarola de alumínio, um maxixe de dar água na boca e, ainda, na panela de barro, o sagrado.
O menino não entende o último suposto petisco e intervém:
- Mamãe ! O que é o sagrado, afinal ?
A mãe responde:
- O anguzinho, sem sal, meu filho. Vai comer que hoje você chegou muito tarde.
- Não quero – responde o guri.
- Mamãe frita um ovinho, filho -, acrescenta a mãe, percebendo que o pequeno está indisposto.
Agora, o caçula pensa duas vezes e, supondo que, a continuar desdenhando, a mãe poderá desistir da promessa, num sobressalto, ele responde:
- “Só se for muito bem fritinho”.
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Pai,
A finalidade desta narrativa é apenas rememorar o nosso saudoso Tio Sebastião, que repentinamente deixou o nosso convívio, bem mais cedo do que era de se esperar, mas satisfazendo a vontade de Deus.
O importante é que nós tenhamos sempre motivos alegres para nos referirmos carinhosamente a ele, até que possamos revê-lo novamente.
Aceite o meu forte abraço, extensivo à Dona Tita.


"Carta escrita carinhosamente por meu filho "Leo".

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